January 31, 2022 Pesquisadores do iPhD avaliam desafios para avançar em comunicação óptica no Brasil
Estudos em Fotônica são campo estratégico na demanda por fluxo de dados e internet móvel das futuras gerações
“No Brasil, quando equipamento apresenta problemas, pode levar meses para seu conserto”, relata o professor Newton Frateschi. Foto: Pedro Amatuzzi
A ciência no Brasil tem um cenário potencial para crescer, apesar dos desafios financeiros e incertezas políticas. Esta é a avaliação dos pesquisadores do projeto temático em Dispositivos Fotônicos Integrados (iPhD), da Universidade Estadual de Campinas – Unicamp, em parceria com a Universidade Mackenzie. A equipe apontou os principais desafios para pesquisa e desenvolvimento em comunicações ópticas como sendo de infraestrutura e de atração de talentos de outros países. Para os professores, este intercâmbio de profissionais pode ser altamente benéfico para fortalecer o ambiente científico nos centros de pesquisa do Brasil.
Para o coordenador do iPhD, professor Newton Frateschi, ainda que o Brasil forme cientistas com alto nível de qualificação, um dos grandes desafios que impactam o crescimento é a atração de pessoal. Frateschi é favorável ao investimento em infraestrutura científica de ampla rede, como a de parques tecnológicos internacionais, que alocam grupos diversificados dentro de uma mesma área de pesquisa. O resultado é um ambiente completo e altamente especializado de pessoas. “Esta rede poderia estabelecer a atmosfera de que precisamos para impulsionar a pesquisa no Brasil”, avalia Frateschi. Além de mais atrativa a profissionais estrangeiros, uma estrutura como a que Frateschi propõe também poderia trazer melhorias no processo de manutenção dos laboratórios. “No Brasil, quando equipamento apresenta problemas, pode levar meses para seu conserto”, relata o professor.
A Unicamp dispõe de um espaço privilegiado para cooperação científica e tecnológica em seu Parque Científico e Tecnológico, área dentro do campus de Campinas, onde atuam dezenas de empresas e startups em parceria com a Universidade, bem como com outros institutos de pesquisa de ponta da região de Campinas, tal como o CNPEM (Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais), o Instituto Eldorado e o CPqD (Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações). Tais pesquisas mobilizam centenas de profissionais e alunos de diferentes áreas, entretanto, de acordo com Frateschi, apesar de ser referência nacional, ainda não há densidade suficiente para atrair fornecedores internacionais de equipamentos e de serviços tecnológicos.
O docente conta que vivenciou um período de sua trajetória acadêmica como pesquisador nos Estados Unidos e recorda como exemplo para ilustrar o argumento. “Na Califórnia, existe uma atmosfera dinâmica em torno do apoio profissional à pesquisa. Assim, uma rede de fornecedores e profissionais para tanto garantir a infraestrutura como a manutenção de espaços faz com que os meios necessários à pesquisa sejam muito mais eficientes. Entrega de insumos, reparos e suporte técnico é rapidamente disponível. Isto ocorre devido a forte demanda dos parques de pesquisa e desenvolvimento tanto da academia como da indústria. É este ecossistema que devemos buscar e que esperamos buscar em várias áreas, em particular, em fotônica, com nosso IPhD. Todos se beneficiam por suas existência.
Força em recursos humanos e tradição
Ainda que haja caminhos possíveis para o aprimoramento, o Brasil tem qualificações que facilitam a imersão na atmosfera científica. O professor Thiago Alegre pontua o histórico da Universidade Estadual de Campinas, que tem destaque na pesquisa em dispositivos ópticos. “A Unicamp é uma das pioneiras nos estudos deste campo”, diz Alegre. Por este motivo, o iPhD, dentre outros projetos, dá sequência a uma tradição de pesquisa em Fotônica, que proporciona um ambiente favorável e atrai interesse de estudantes internacionais. “Por esta tradição, também conquistamos uma infraestrutura bastante sólida aos laboratórios, que nos permite desenvolver uma série de procedimentos importantes – desde projeto e design até a testagem de novos dispositivos”, avalia o professor.
Outro ponto positivo no contexto da Unicamp é a qualificação dos estudantes e dos profissionais, com perfil para a formação integral, interesse pelo trabalho e dedicação às atividades cotidianas do trabalho acadêmico. De acordo com o professor Gustavo Wiederhecker, a tradição da Unicamp atraiu um grupo de pessoas com experiência em Fotônica para conduzir estudos competitivos com os padrões da pesquisa internacionais. “Em ciência, não se trata apenas de disponibilizar infraestrutura. É imprescindível o Brasil fortalecer a sua política para atração e formação de profissionais qualificados, que estejam em nossos laboratórios avaliando os resultados”, argumenta Wiederhecker.
Paradoxos políticos
Apesar do evidente aumento da demanda tecnológica, a ciência brasileira encara o cenário de redução nos investimentos em todo o país, em um quadro financeiro considerado crítico. O projeto orçamentário do Governo Federal para 2022 permanece insuficiente para compensar as perdas dos últimos anos. O orçamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) permanece estagnado na casa de R$ 1,3 bilhão, com menos de R$ 40 milhões para fomento e menos de R$ 1 bilhão, para bolsa, uma redução em 18% dos recursos em relação a 2019.
“Esta situação obriga a muitos de nossos talentos buscarem oportunidade profissional em outros países”, sinaliza Frateschi. “Os postos de trabalho nas Universidades estão saturados. Felizmente, há iniciativas como o Parque Científico e Tecnológico da Unicamp, uma importante referência para o país na geração de empregos para estes novos profissionais”.
Os orçamentos do Governo Federal já representam um corte de cerca de 70% em relação ao valor investido há uma década no setor de pesquisa no Brasil. A conjuntura atinge agências de financiamento basilares para a comunidade acadêmica, como o CNPq e a Capes. Esta já perdeu 1,2 bilhões de reais do total de 4,2 bilhões que dispunha no primeiro ano da atual gestão federal.